Sento-me virado para a janela,
por onde entra o primeiro sol quente de Abril. O meu corpo, quase nu, aquece,
começo a suar. Apenas se ouvem algumas crianças que brincam no pátio das
traseiras, louça a ser arrumada na copa do restaurante, cujas traseiras também
dão para o pátio. Lá ao longe, muito baixinho, o movimento da Danziger Str.. A
Maria José, uma amiga de Lisboa, treze anos mais velha do que eu, e que está de
visita, entra na sala e encosta-se a mim por detrás, primeiro passando as mãos
no meu peito, já bastante suado, depois baixando-se, os seus braços à volta do
meu pescoço e a cara já encostada à minha. Os sons da rua são agora ainda
menores e, por um momento, o sentimento, aliando a melancolia costumeira com
uma certa paz, é de felicidade.